TRANSPIRAÇÃO
Inspiração
há de sobra
na sombra
da tua alma,
imagina
ao fundo!
Deixa, musa
deixa eu avançar
deixa amar-te
loucamente
perdidamente
inspiração
há de sobra
na sombra
da tua alma
deixa transpirar-te
deixa esculpir
teu sorriso
e desenhar-me
brilhante
nas tuas imaculadas
entranhas
inspiração, amor
há de sobra
na sombra
da tua alma
MOZAMBIQUE
“para um bom entendedor meia palavra basta”
Ditado popular
Na terra onde nascí há uma porta. Por fora ficamos nós. Esperançados em içar uma bandeira. Edificar novo pensamento. Por dentro, um antro de víboras. Este, armado em astro, ainda demonstra a permanente escuridão. Escuridão da solidão, mais incompreensível que as riquezas da burguesia negra africana! Sim. Moçambique, as vezes, parece ilusão. Já repararam que a heroína representa Mozambique? Que a nossa marca, recém lançada, também? Que a figura da marca Mozambique se assemelha a uma vagina ou pode ser ânus! Será que é ânus? Qual Náutilus qual quê! Náutilus que a gente conhece não domina. Nunca dominou. Nas nossas águas fornicadas, navios vemos toda hora. Marines. Gendarmes. Outro luso. Mudo. Sujo. Quem muda? Muda. Mudemos. Aqui não basta saber. Tem que se convencer. Não basta dominar o código de estrada. É preciso dominar o código dos buracos. Há tantos, tantos e tantos nas estradas desta sobrevivência. Mas há um buraco. Aquele buraco não é buraco qualquer. Nele tantos estão. É um buraco enorme, mais velho que a nação e menos simpático. Parece povoado, mas não é povoado. É uma vala comum aquele buraco. Só Platão sabe o que representa.
Nós, que viemos da independência e crescemos dentro da liberdade, somos chamados a responsabilidade. Antes morrer fugindo que capturado. Che que o diga. Fingido? Não, amor. Minha poesia não é cobardia. Nunca será. Deixo sempre os lacaios colher o primeiro milho dos pardais. Ratos. Patos. Leões. Tubarões. Crocodilos. Baleias. Minhocas. Cobras. Cabritos. Outros ritos de iniciação. Que alimentam mais um. Mais um coração propenso a putaria. Pirataria na cobardia do dia a dia. Depois dizes que estou avariado! Muito obrigado. Digo e repito: Se me derem uma AKM, rebento-te a cabeça em dois tempos. Disse e volto a repisar: Se me derem uma AKM, rebento-te a cabeça em dois tempos. Rebento-te só para deliciar a alegria do teu sorriso na atmosfera ardente.
Afinal porquê demoramos a designar as coisas pelos seus legítimos nomes? Ratos. Patos. Leões. Tubarões. Crocodilos. Baleias. Minhocas. Cobras. Cabritos. Puxa! Neste sol infernal, ainda nos recusamos a dizer o que tem de ser dito? Não, amor. Não me calo. Falo. Canto. Escrevo. Declamo. Reclamo. Reivindico nesta via. Esta pátria não deve atrapalhar. Vamos trabalhar. Esta pátria também é minha. Esta é a minha pátria. Esta nação também é nossa. Este país não é só deles. Puxa, amor. Custa mudar de vez “Moçambique” para “Mozambique”? Ou custa decretar que a “República não mais popular de Moçambique” deixa de ser “República de Moçambique” e passa a “República Moçambicana”? Sim, falei. Se falhei é porque falei. Agora falas tu. Fala para que te possam ver, como dizia o Sócrates. Não o tuga, mas o arcáico. Aquele que não viu a arca da nação. Fala. Grita. Chora. Morde. Come. Bebe. Bebé que não chora não mama, diz o saber popular. Guerra popular ainda é paragem. Liberdade miragem. Khongolote é destino. A passos de camaleão: Tchere, tchere, tchere, caminha um eu que és tu. Kutcherenga. Tchere, tchere, tchere, como camaleão, mas sem mudar de cor. Tchere, tchere, tchere, passos piores que dos Wai-wai. Tche-re. Tche-re. Tche-re. Ku-tche-ren-ga, sem forças para gudjimar. Mesmo depois de gymar no mar gratuito. Ou na praia livre. Águas sujas. Sereias ausentes. Cólera presente. Eu cidadão. Tu cidadão. Então fala. Fala. Grita. Chora. Morde. Explode. Parte a loiça toda. Pra-ta-ta-ta-tá. Porém, oiça. Oiça, por favor. Oiça muito bem: Não ouse entrar naquele buraco. Mesmo que a porta esteja totalmente escancarada. Danificada até as entranhas. Escangalhada de facto. Não ouse entrar naquele buraco. Mesmo que a porta esteja completamente despida. Não ouse entrar nele.
GINGAÇÃO
Dama demais
ginga, ginga
ginga, gira
na sombra ginga
gira, ginga
até que sobra.
AmARTE
Quero
amar-te
diante
desta luz
lunar
fora
do marte
num’aldeia
de laranjeira
sem herói
nem mártir.
CAPA PRETA
Sou preto
sim, senhor
não tenho
nenhum
receio
em assumir
isso,
mas essa
bíblia
profana
juro-te
que não é
minha, amor
LINDA LUA!
Sou dos
poucos
neste mundo
que ainda
acredita
na beleza
da lua,
os outros?
Hummm...
neste mundo
sou dos
poucos
que dorme
com as cortinas
abertas
e a dada
altura
da madrugada
acorda
e deixa-se
apreciar
p’la mesma lua,
lua maravilhosa!
POEMA DA DEMISSÃO
Se ser
poeta
requer
passar noites
devorando
livros
escrevendo
descrevendo
um planeta
de viventes
inexistentes
enquanto
se permanece
no quarto
isolado
se masturbando
p’ra não dizer
orando
rezando...
se ser
poeta
passa
necessariamente
por abdicar
da vida,
então eu...
eu não quero...
não quero ser poeta.
RESPOSTA AO PEDIDO
Pediram-me
p’ra poetar
sobre política
e outros
assuntos sociais
tragam minha arma
pediram-me
p’ra falar
das injustiças...
fuzilamentos
clandestinos
reportagens
desencorajadas
destinos trocados
rajadas aos inocentes
tragam minha arma
pediram-me
p’ra dizer
a toda a gente
que Xiquelene 2
é possível
só requer
vontade
tragam minha arma
pediram-me
p’ra comentar
o epicentro Munhava
e arredores
bem como a dita banana
tragam minha arma
pediram-me
p’ra tecer algo
sobre o norte
e sobre esse
homem trabalhador
honesto enganado
e sem futuro
tragam minha arma
pediram-me
p’ra falar da mulher
a mulher vadia
trajada a majestade africana
bem ao jeito do sistema
talvés por isso
respeitada p’la sociedade
tragam minha arma
pediram-me
p’ra falar
do confrade
que assassina
outro confrade
e não assina...
e os familiares
desorientados...
ó meu Deus!
Tragam minha arma
pediram-me muita coisa
que não precisavam pedir,
pois é meu dever...
tragam minha arma.
DESTINO PATÉTICO
Me diz se és feliz?
Tens uma pátria
que já te cansaste
de a ter
uns pais
que não sabes
se algum dia
fizeram teste de
paternidade
uma namorada
que não te ama
e nunca fez
teste de seropositividade
dinheiro?
Anda sempre
bem longe de ti
me diz, compatriota
me diz se és feliz?
Comentarios
Publicar un comentario